No espaço de uma semana, a vida do administrador Leonardo Curvelo virou do avesso. Seis dias depois de perder o pai, vítima de câncer, ele caiu de moto na Paralela, uma das avenidas mais movimentadas de Salvador. No instinto, tentou se agarrar no ‘guard rail’. Teve o braço esquerdo decepado. Parecia o fim, mas para Leonardo era apenas o começo.

Antes de descobrir o esporte paralímpico, ele teve que vencer algumas batalhas pessoais. Começou na mesa de cirurgia, quando foi salvo pela oração que traz tatuada na costela. Levado sem documentos ao hospital, Léo ia ter o crânio perfurado para introdução de uma sonda. A suspeita era que estivesse em coma. Antes do procedimento, a médica leu o início da prece: “Eu, Leonardo Landim Curvelo…” foi o bastante para Léo abrir os olhos e recitar, de cor, o resto da tatuagem. “Tem o Pai Nosso do outro lado, mas o Pai Nosso a senhora conhece, né, doutora?”, brincou Léo, que escapou da sonda devido ao seu estado de consciência. Após a cirurgia, pediu alta, rejeitou o implante de enxerto e ficou aos cuidados da mãe, durante oito meses de curativos a cada dois dias. Devido à inatividade, ganhou 15 quilos. Resolveu começar a fazer caminhadas, aliadas à musculação. Por acaso, durante uma viagem, descobriu a natação e chamou a atenção de um professor pela sua mobilidade na água.
Sem nunca ter nadado antes, estreou na maratona aquática após dois meses de treino, na segunda etapa do Campeonato Baiano, em São Tomé de Paripe. Hoje, com cinco etapas já disputadas em apenas quatro meses de treino, Leonardo Curvelo planeja disputar as Paralimpíadas do Rio em 2016. Na piscina ele já disputou o revezamento 4×50 metros livre e os 100 metros individual na categoria master C (35 a 39 anos). Foi 10º entre 12 competidores. Nas duas provas, ele era o único portador de deficiência. Deficiência que ele próprio trata com naturalidade e muito bom humor. “Hoje nas provas da Federação Baiana de Natação as pessoas já perguntam: ‘o maneta vem?’ Você já pensou o que é você ter os dois braços, treinar todo dia e um maneta ser melhor do que você?”, diz Leonardo, aos risos.
O desempenho inesperado na água motivou Leonardo a experimentar outros esportes. Incentivado pelo seu treinador correu pela primeira vez no mês passado e percorreu 5 quilômetros em 26 minutos. Léo vai de bicicleta visitar os três filhos, São 28 quilômetros, somando ida e volta de Stella Maris ao Itaigara Há um mês voltou a treinar jiu-jitsu, mas se recusou a usar a faixa roxa que conquistou antes do acidente. O seu mestre não concordou que ele treinasse com a branca. Chegaram a um acordo e Leonardo treina sem faixa até se sentir merecedor de voltar a usar a roxa, que é dele por direito. Aposentado pelo INSS, Léo pegou empréstimo para pagar as despesas com material de treino e suplementos. Ele agora conta com uma equipe de preparação e busca patrocínio para viabilizar o sonho de nadar nas Paralimpíadas.
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